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09/04/2025

Guerra Comercial EUA x China: implicações econômicas e reflexos para os investimentos

O aumento das tarifas comerciais, aliado à postura agressiva adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (2), intensificou o clima de incerteza no cenário econômico internacional, o que tende a afetar negativamente o desempenho da maior economia do planeta.

Escalada comercial entre EUA e China

O cenário econômico global em abril de 2025 segue marcado por uma acentuada escalada nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Inicialmente, o presidente Donald Trump anunciou tarifas de 34% sobre produtos chineses, sob justificativa de combate à crise do fentanil. Como resposta, a China aplicou tarifas equivalentes e restringiu exportações de minerais de terras raras, insumos essenciais para a indústria de alta tecnologia americana.

Entretanto, os desdobramentos dos dias seguintes elevaram significativamente o tom da disputa. Em 8 de abril, Trump anunciou um novo pacote tarifário que eleva a sobretaxa total sobre importações chinesas a 104%, combinando três rodadas de tarifas — a mais recente delas como reação à retaliação chinesa.

No dia 9 de abril, a China respondeu de forma ainda mais contundente: aplicará tarifas de 84% sobre produtos americanos, com vigência a partir da meia-noite.

 

Como isso afeta o Brasil?

Como os EUA têm superávit comercial com o Brasil, nosso país está entre os menos afetados pelas tarifas de Trump, e terá seus produtos taxados pela alíquota mínima de 10%, uma alta em comparação aos atuais 3%. As exportações brasileiras para os EUA representam 2% do PIB do Brasil. Portanto, o impacto na nossa economia será bastante limitado. A primeira e mais óbvia consequência dessa situação seria uma possível retaliação chinesa contra os produtos do agronegócio norte-americano, caso em que o Brasil poderia se sair como beneficiário.

Uma consequência menos evidente, mas que começa a ganhar relevância no radar econômico, é a possível migração de indústrias asiáticas para o Brasil, especialmente aquelas mais afetadas pelas novas tarifas. Um exemplo claro é o setor calçadista, atualmente concentrado em países como o Vietnã, que sofreu um aumento nas tarifas de exportação para os Estados Unidos, agora fixadas em 46%. Embora essa transferência de fábricas para o Brasil ainda não seja uma tendência consolidada, os efeitos das tarifas sobre empresas americanas já se fazem notar: as ações da Nike, por exemplo, registraram uma queda de 14,4% no pregão seguinte ao anúncio.

O governo Lula não planeja retaliar os EUA no curto prazo por causa da imposição de tarifa adicional de 10% sobre produtos brasileiros. Ao mesmo tempo, o tarifaço vai levar o Brasil a acelerar a corrida por novos acordos na Ásia, segundo a estratégia em discussão na Esplanada dos Ministérios.

 

Análise da declaração do Presidente do Banco Central

Em um dia marcado pela forte queda das bolsas asiáticas e europeias, em reação ao tarifaço imposto por Donald Trump, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, falou sobre a crescente incerteza global, afirmando que esta segunda-feira (7) foi a prova de que a dificuldade de fazer projeções econômicas para o futuro não é exclusividade do Brasil:

“Eu sempre achei que era porque a gente ia se aproximar do deles e não o caminho contrário. Hoje, o tema de incerteza e volatilidade parece estar um pouco mais espalhado no mundo.”

 

Inflação e expectativas

Conforme o Banco Central vem sinalizando em suas comunicações oficiais, há um grau maior de incerteza sobre a economia global nas estimativas de preços, tanto em economias desenvolvidas quanto emergentes. Vale ressaltar que este tema está dentro do balanço de riscos para a inflação do Banco Central, com destaque para o risco baixista, que aponta: “um cenário menos inflacionário para as economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.” Sobre esta dinâmica, avaliamos que os desdobramentos podem ter impactos tanto baixistas quanto altistas para as projeções inflacionárias.

 

Balança comercial e taxa de câmbio

Em relação aos efeitos sobre o setor externo, acreditamos que haverá um significativo rearranjo não apenas das cadeias produtivas, mas também das participações de países e blocos econômicos na balança comercial global. No caso brasileiro, os EUA representam 12,21% das nossas exportações em dólares e 14,88% das nossas importações.

Ainda que a medida para o Brasil tenha sido mais branda, em comparação com outros emergentes (como México, Taiwan e Tailândia), acreditamos que a tarifação de 10% pode reduzir em US$ 5,2 bilhões o saldo da nossa balança comercial em 12 meses. Contudo, vale lembrar que a China (28,55% das exportações e 23,29% das importações) e a União Europeia (14,61% das exportações e 17,3% das importações) podem ampliar suas participações nas relações comerciais com o Brasil, suavizando os efeitos negativos do menor saldo comercial com os EUA.

Impacto sobre o mercado acionário

Entendemos que um cenário de desaceleração da economia norte-americana — impulsionado por inflação e juros elevados, além de múltiplos de negociação esticados — pode pressionar o desempenho das bolsas dos EUA.

 

E o cenário para as BDRs?

O S&P 500 é negociado a um múltiplo preço/lucro (P/L) de 20,4x, patamar 10,2% acima de sua média histórica. Isso indica que o mercado ainda não precificou uma desaceleração econômica significativa decorrente do impacto das tarifas.

Diante desse cenário de incerteza, acreditamos que os investidores devem priorizar ações defensivas em vez de cíclicas, e empresas de valor em detrimento das de crescimento. Por isso, neste mês optamos por reduzir a exposição a nomes ligados a tecnologia e crescimento.

Comparativo entre bolsas

A bolsa brasileira apresenta um nível atrativo de desconto em relação a outros emergentes e desenvolvidos. O Ibovespa negocia com um desconto de 28% sobre sua média histórica de 10 anos, com base no múltiplo P/L projetado para 2025. Em contraste, a bolsa da Índia já opera com múltiplos elevados (20,1x P/L 2025e).

Além disso, México e China estão diretamente envolvidos nas disputas comerciais com os EUA, o Chile é um mercado de menor escala e a Argentina ainda precisa passar por um processo de normalização econômica.

Dessa forma, vemos a bolsa brasileira com boas características de valor e qualidade: múltiplos atrativos, forte pagamento de dividendos (com o maior dividend yield entre os pares analisados) e crescimento composto projetado de 21,6% nos lucros para os próximos três anos.

Conclusão

A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China eleva significativamente o nível de incerteza global e reforça os desafios para investidores e formuladores de política econômica ao redor do mundo. Os efeitos das tarifas impostas por ambas as potências já se refletem nos mercados financeiros, nas cadeias de suprimentos e nas projeções de crescimento global.

Embora o Brasil esteja relativamente menos exposto no curto prazo, os desdobramentos desse conflito podem gerar impactos indiretos importantes, tanto em termos de oportunidades comerciais, quanto de volatilidade nos ativos de risco.

Diante desse cenário, a Gennesys Investimentos mantém sua postura de cautela e acompanhamento contínuo dos indicadores econômicos globais, buscando identificar pontos de inflexão que justifiquem ajustes táticos nas alocações. Estratégias de diversificação, foco em ativos de valor e exposição seletiva a mercados locais seguem como pilares fundamentais para atravessar esse período com segurança e consistência.