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08/10/2025

Como a BlackRock está moldando o futuro dos investimentos com inteligência artificial

Em um setor historicamente movido por planilhas, relatórios e decisões humanas, a inteligência artificial (IA) está provocando uma transformação estrutural sem precedentes.
Entre as gigantes financeiras, nenhuma tem se posicionado de forma tão abrangente e estratégica quanto a BlackRock.

Segundo a pesquisa do Morgan Stanley intitulada “Os Adotantes de IA Chegaram: Formas de Investir + Análise dos Casos de Uso da Adoção de IA”, a gestora americana, que administra mais de US$ 12 trilhões em ativos e atua em 42 países, é hoje um dos maiores laboratórios de aplicação prática de IA no setor financeiro global.

O que a BlackRock está fazendo vai além de automatizar processos: trata-se de redefinir a forma como o capital é alocado, o risco é medido e o valor é gerado.

Um histórico de 15 anos com a IA no centro da estratégia

A adoção de IA pela BlackRock não é recente. Desde meados de 2010, a empresa vem digitalizando seus processos de análise, precificação e execução. Mas foi a partir de 2018, com a criação do BlackRock AI Lab, que o uso da inteligência artificial ganhou escala e se tornou um vetor estratégico global.

O laboratório, que reúne engenheiros, cientistas de dados e gestores de portfólio, tem como missão acelerar o uso de IA em negociação, atendimento ao cliente, análise de mercado, compliance e eficiência operacional.

Com isso, a BlackRock passou a integrar modelos de aprendizado de máquina (machine learning) e linguagem natural (NLP e LLMs) às suas plataformas internas — especialmente ao Aladdin, considerado o cérebro digital da companhia.

 

Aladdin, o sistema nervoso da BlackRock

O Aladdin (Asset, Liability, Debt and Derivative Investment Network) é mais do que uma ferramenta de gestão: é uma plataforma de inteligência artificial que conecta dados, risco e decisão em tempo real.

Utilizado tanto internamente quanto por clientes institucionais de todo o mundo, o Aladdin analisa milhares de variáveis simultaneamente — desde flutuações de mercado até eventos climáticos e dados geopolíticos — para mapear riscos, prever movimentos e sugerir ajustes automáticos em carteiras.

De acordo com o Morgan Stanley, o Aladdin é hoje uma das principais fontes de vantagem competitiva da BlackRock, oferecendo:

  • Análises preditivas com base em dados históricos e em tempo real;

  • Simulações de portfólio em diferentes cenários econômicos;

  • Detecção de fraudes e anomalias operacionais;

  • Execução automatizada de ordens de negociação com base em algoritmos de aprendizado adaptativo.

Essa infraestrutura de IA é usada não apenas para gerir fundos próprios, mas também para fornecer inteligência a outras instituições financeiras — bancos, seguradoras, fundos de pensão e family offices — transformando a BlackRock em uma espécie de plataforma de inteligência global.

 

A gestão de investimentos entra na era algorítmica

O modelo tradicional de gestão, baseado na análise humana e em relatórios qualitativos, está sendo substituído por abordagens sistemáticas e orientadas a dados.
O relatório
do Morgan Stanley destaca três grandes pilares da transformação da BlackRock:

1. Estratégias sistemáticas

A divisão BlackRock Systematic é o núcleo quantitativo da empresa. Lá, grandes modelos de linguagem (LLMs) são treinados com dados financeiros, corporativos e setoriais, permitindo análises automatizadas de balanços, teleconferências de resultados, artigos especializados e até publicações em redes sociais.

Esses modelos não substituem analistas — eles amplificam sua capacidade, revelando padrões e correlações que dificilmente seriam detectados manualmente.

Com isso, a BlackRock cria previsões mais refinadas sobre movimentos de preço, sentimento de mercado e riscos emergentes.

2. Thematic Robot

A ferramenta Thematic Robot combina inteligência humana e IA para identificar tendências temáticas de investimento — como energia limpa, cibersegurança, envelhecimento populacional e infraestrutura digital — e construir carteiras de ações personalizadas em torno desses temas.
O sistema utiliza dados de consumo, relatórios de políticas púb
licas, patentes registradas e fluxos globais de capital para definir quais empresas estão mais expostas a cada tendência.

3. Alpha Signals

A equipe de investimentos sistemáticos desenvolveu um banco de mais de 1.000 sinais de alpha, métricas derivadas de IA que indicam oportunidades de investimento.
Entre os exemplos, estão:

  • Monitoramento de vagas de emprego online, usado como indicador antecipado de crescimento ou retração econômica;

  • Acompanhamento de preços de bens de consumo, usado para prever índices de inflação;

  • Sentimento de mercado extraído de mídias sociais e notícias financeiras.

Essas abordagens ampliam o alcance analítico dos gestores e reduzem o intervalo entre a observação de uma tendência e sua conversão em decisão de investimento.

A BlackRock está financiando a próxima revolução da IA

Enquanto utiliza IA para investir melhor, a BlackRock também está investindo na infraestrutura que viabiliza o avanço da inteligência artificial global.

O AI Infrastructure Partnership Fund (AIP), lançado recentemente, tem como objetivo financiar data centers e projetos de energia capazes de sustentar a demanda explosiva por poder computacional.

O fundo é uma parceria entre BlackRock, Microsoft e MGX, com suporte técnico da NVIDIA e participação de investidores institucionais como KIA (Kuwait Investment Authority) e Temasek.

A meta é captar US$ 30 bilhões em capital próprio e alavancar até US$ 100 bilhões em dívida — um movimento que reflete o papel central que a IA ocupará na economia global.

A estratégia é clara: a BlackRock quer ser não apenas investidora em IA, mas acionista da infraestrutura que alimentará a IA mundial.

 

Sustentabilidade e IA: análise ambiental em escala global

Outro eixo de inovação é a integração entre inteligência artificial e investimentos sustentáveis.

Desde 2021, a BlackRock mantém parceria com a Clarity AI, que fornece inteligência de dados ambientais e sociais integrada ao Aladdin.

Com essa tecnologia, os clientes podem avaliar o impacto de seus portfólios em 198 países, mapeando emissões de carbono, práticas de governança e exposição a riscos climáticos.

Além disso, a IA auxilia na automação de relatórios de sustentabilidade — especialmente os exigidos pelo SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), norma europeia que impõe transparência sobre os impactos ESG dos fundos.

Para uma gestora com bilhões sob gestão em fundos sustentáveis, essa automação representa não apenas eficiência, mas credibilidade e aderência regulatória global.

 

IA na experiência do cliente: personalização em tempo real

No relacionamento com investidores, a BlackRock aposta em IA generativa e automação conversacional para aprimorar a experiência de seus usuários.

Aladdin Copilot

O Aladdin Copilot, desenvolvido internamente, é uma ferramenta de IA generativa que responde a perguntas complexas de investimento, gera relatórios automáticos e visualizações personalizadas.
Ele é capaz de cruzar dados macroeconômicos, performance de portfólio e indicadores de risco em segundos — algo que, até poucos anos atrás, exigiria equipes inteiras de analistas.

Abertura de contas com IA

Desde 2020, a empresa utiliza tecnologia da Saphyre, que automatiza todo o processo de abertura de contas institucionais.
Com IA, a comunicação entre cliente, custodiante e corretora se torna fluida e praticamente sem intervenção manual, eliminando erros e acelerando a integração de novos investidores.

Essas soluções representam uma mudança de paradigma: o cliente deixa de esperar relatórios e passa a interagir com inteligência em tempo real.

 

IA no ambiente interno: produtividade em escala

A revolução tecnológica da BlackRock também é interna.

A empresa adotou o Microsoft 365 Copilot e o GitHub Copilot para otimizar tarefas administrativas, gerar relatórios e apoiar o desenvolvimento de código.

De acordo com a pesquisa do Morgan Stanley, a BlackRock:

  • Contratou 1.200 novos especialistas em IA até o 1º trimestre de 2025;

  • Reduziu o tempo de simulação de cinco anos de dados de ações globais de 3 horas (2015) para 1,8 segundo (2025).

Esses ganhos de eficiência mostram que a IA não é apenas uma ferramenta analítica, mas um motor de produtividade corporativa.

 

Humanos e máquinas: o equilíbrio que define o futuro

Apesar da automação crescente, o relatório do Morgan Stanley enfatiza que a BlackRock enxerga a IA como um complemento, não uma substituição da inteligência humana.

A próxima etapa dessa integração está em desenvolvimento: agentes de IA autônomos que trabalharão ao lado dos gestores de portfólio, executando tarefas como:

  • análise de relatórios corporativos;

  • elaboração de comentários de performance;

  • automação de compliance;

  • alertas de oportunidades de mercado;

  • suporte a equipes de vendas e relacionamento.

O objetivo é liberar tempo humano para o que mais importa: estratégia, julgamento e criatividade.

IA como novo ativo estratégico

O movimento da BlackRock sinaliza uma mudança de paradigma no setor financeiro global: a IA deixou de ser ferramenta e se tornou ativo estratégico.

A integração de algoritmos, dados e aprendizado profundo cria um ecossistema em que informação, eficiência e velocidade se tornam novas formas de capital.

E isso não se restringe à BlackRock. O estudo do Morgan Stanley mostra que instituições financeiras que implementam IA sistematicamente já estão obtendo ganhos tangíveis de rentabilidade, mitigação de risco e fidelização de clientes.

 

O olhar da Gennesys

A adoção de IA pela BlackRock é um retrato claro de para onde caminha o setor financeiro global: um mercado guiado por dados, eficiência e previsibilidade.

Na Gennesys, acompanhamos de perto essa transformação e auxiliamos nossos clientes a compreender como a inteligência artificial pode ser aplicada de forma estratégica, ética e rentável em suas operações e investimentos.

Porque, no mundo financeiro que se desenha, não basta reagir: é preciso antecipar o avanço.
E essa é a essência do que fazemos todos os dias:
transformar inovação em estratégia e tecnologia em vantagem competitiva.

Fonte: Morgan Stanley — “Os Adotantes de IA Chegaram: Formas de Investir + Análise dos Casos de Uso da Adoção de IA”